Chegadas e Partidas

Diariamente, 36.766 táxis circulam legalmente pela cidade de São Paulo, disputando espaço em ruas, avenidas e marginais com outros 4,2 milhões de automóveis e 39,2 mil ônibus coletivos – não incluídos aí caminhões, motocicletas e outros tipos de veículos. Parece muito, mas não é. Pelo menos não para os 200 mil profissionais que, mesmo possuindo o Cadastro Municipal de Condutores de Táxi – documento que habilita o profissional a exercer a atividade – aguardam a oportunidade de guiar um desses veículos. Em média, cada taxista percorre 600 quilômetros por dia, levando gente para os mais distantes lugares da cidade. Ao final de um mês, todos eles terão transportado dois milhões de pessoas – a grande maioria apressada para chegar antes - número que corresponde a 20% da população da cidade.  A cada 30 dias, todos esses táxis consomem cerca de 2,3 milhões de litros de combustível, 12 mil litros de óleo para motor e 1,5 mil pneus. E embora todo mundo acredite que a cidade não pode parar, em horários de pico a capital paulista chega a acumular engarrafamentos de 130 quilômetros em média – a mesma distância entre as cidades de Maceió e Arapiraca, no estado de Alagoas. Fiquei imaginando por onde andavam os 200 mil taxistas habilitados – a maioria deles sem táxi, é verdade – durante o tempo em que estive perdido no aeroporto de Congonhas – um entre as 26 mil pessoas que passam por lá todos os dias para tomar ou desembarcar num dos quase 700 voos que chegam e que vão. Só não contava com o fato de que o único a aparecer, depois de três horas de espera, fosse um taxista de... Arapiraca. “O mundo pode ser pequeno, mas pra onde a gente vai é bem longe”, brincou ele, antes de contar sua aventura ao decidir sair do agreste alagoano ainda adolescente para tentar a vida em São Paulo. Eu só não entendi por que numa cidade com tantas possibilidades, fui me inventar de pegar justamente um táxi de um conterrâneo. “Culpa da SulAmérica Trânsito”, explicou, referindo-se à emissora especializada em informar tudo sobre o trânsito paulistano. “Hoje só fica parado em engarrafamento quem quer”, ele disse. “Ou quem não tem rádio no carro”, falei, mantendo o olhar perdido no vazio, tentando não pagar o pato por toda aquela demora. Por isso me senti aliviado quando, dois dias depois, a aeromoça me entregou o fone de ouvido e me desejou bom retorno. Viajar é muito bom, mas voltar pra casa é muito melhor, pensei, enquanto olhava a cidade salpicada de luzes de mercúrio lá embaixo, ouvindo uma música do Don McLean que sempre me deixa muito feliz. E de repente me dei conta do abraço que me esperava na volta. E fiquei feliz, porque o abraço da chegada é mais aconchegante do que o da partida. E voltei a olhar as luzes da cidade pequeninhas, como se fossem estrelas postas caprichosamente sobre o chão em que haveríamos de dançar, embalados pela música do Don McLean:
 “A long, long time ago...
I can still remember
How that music used to make me smile.
And I knew if I had my chance
That I could make those people dance
And, maybe, they'd be happy for a while”.