Vergonha tipo exportação

Já disse aqui e repito: tenho orgulho de ser alagoano. Mas me envergonho do comportamento de algumas pessoas que só pensam em levar vantagem. Alagoas tem belezas naturais que poucos lugares do mundo possuem. Quem conhece o meu Estado sabe do que estou falando. Infelizmente, em Alagoas, não se explora o Turismo, mas o turista. E isso fica evidente em todos os lugares que se vai – especialmente na alta temporada turística. Aproveitei este fim de semana para ir às piscinas naturais da Pajuçara, passeio que recomendaria a todos – turista ou não – não fosse a malandragem (tentei encontrar outro termo, mas não consegui) de algumas pessoas que exploram o passeio. “Solícito”, o jangadeiro já veio todo gracioso em minha direção recomendar o ponto turístico a 3 km da costa de Maceió. Havia chegado duas horas antes de a maré baixar, porque minha filha queria aproveitar a praia, antes do embarque. Mas, numa propaganda irresistível, o jangadeiro tratou logo de contar vantagem, o que acabou me convencendo. Ainda arrumou uma vendedora que providenciaria as bebidas. “Quanta gentileza”, pensei, até descobrir que a vendedora era irmã dele e que praticava preços acima do normal. Porque acontece assim em Maceió: para turista, o preço é outro, não tenha dúvida. E quando você usufrui de um passeio normalmente voltado para o turista, é confundido como turista também. No pior termo do que possa significar confusão. No dia anterior, no mesmo lugar, eu havia comprado uma cerveja por R$ 2 e uma água mineral, por R$ 1. Só porque estava ali – num local em que pouco nativo vai, o que é uma pena – a mulher majorou os preços: a cerveja e a água passaram a custar R$ 3, cada. “Como isso pode acontecer?”, quis saber. “A gente precisa ganhar dinheiro”, respondeu a mulher, deixando umas reticências que quase falavam algo como “desses turistas otários”. A exploração do turista – e não do turismo – prosseguiu depois de ter chegado às piscinas. Malando, apenas uma hora depois de ter chegado o jangadeiro percebeu que a maré estava baixando. E foi somente o casal que havia nos acompanhado na jangada demonstrar interesse em regressar ao continente, para que ele já nos chamasse para retornar também – mesmo o meu grupo estando em maior número. Percebi imediatamente que seu interesse era, na verdade, apanhar mais turistas e, assim, ganhar mais dinheiro, mesmo que esse dinheiro fosse garantido de má-fé. (O fato de ele querer ganhar mais dinheiro não é errado. A forma, sim, porque não foi correto a partir do momento em que quis me levar para o local ainda com a maré cheia). Pensei em denunciá-lo na Secretaria de Turismo, mas ele mesmo me desencorajou: “Ninguém de lá vai ligar não”. No fundo, no fundo, o jangadeiro está certo. Infelizmente, a exploração do turista começa do alto, com quem gerencia a atividade. E passa pela não fiscalização esse tipo de atividade exploratória, negligenciando as belezas naturais de Alagoas ao entregá-las ao mercantilismo nada barato. Nessa questão, o turista é apenas o lado mais fraco da corda, por incrível que pareça.