Vestígios do Dia

Foto: Léo Villanova

No cemitério de Palmeira dos Índios, à procura dos Ramos.

Escrever é muito bom, mas pesquisar para escrever é muito melhor. Posso estar errado, mas a fase das pesquisas para qualquer área cultural é a melhor parte do trabalho, seja na literatura, na música ou no cinema. É onde você acaba descobrindo coisas valiosas que muitas vezes servirão até para outros trabalhos. Certa vez, Fernando Morais me disse que pesquisava para Chatô – O Rei do Brasil, quando descobriu a história da Shindo Renmei – seita japonesa que nasceu em São Paulo logo após o fim da Segunda Guerra Mundial e aterrorizou a colônia nipônica no Brasil. Sabendo que tinha uma grande história nas mãos, o autor continuou pesquisando a biografia de Assis Chateaubriand e somente alguns anos depois de lançar o livro se voltaria para a tal “Liga do Caminho dos Súditos” que resultaria no livro Corações Sujos. Há alguns dias, ouvi do diretor Sylvio Back que foi quando se debruçou sobre Angústia – o único romance de Graciliano Ramos que ainda não foi levado às telas, cujos direitos ele detém para o cinema – que começou a pesquisar sobre o autor da obra, dando-se conta da inexistência de filmografia sobre o homem por trás do escritor. “Sobre o autor de Vidas Secas já se falou demais, mas nunca se fez um filme sobre o ser humano Graciliano Ramos”, disse durante jantar em que estava presente também seu produtor Paulo Henrique, o PH, que esteve acompanhando o diretor em sua visita a Alagoas, recentemente. Estive com Sylvio Back em Palmeira dos Índios, terra onde Graciliano foi prefeito entre 1928 e 1930. Vasculhamos tudo à procura de personagens que conviveram com o Mestre Graça. E achamos, inclusive o engraxate do escritor, que está hoje com 92 anos de idade. Mas as pesquisas não pararam por aí. Foram horas de entrevistas com moradores, pesquisadores, pessoas do povo – um até que não gostava do prefeito. “Aquilo era mal educado, não falava com ninguém, multou até o pai”, ressentiu-se o senhor Davi, que tinha 12 anos quando Graciliano Ramos assumiu o comando do Poder Executivo de Palmeira. O resultado dessas pesquisas será transformado em documentário, que o diretor pretende lançar no início do próximo ano, e aí sim, voltar-se para o seu projeto inicial, que são as filmagens de Angústia. Não conto mais para não estragar a surpresa. Digo apenas que escrever é bom – seja para o cinema,  música ou literatura –, mas pesquisar para escrever é muito melhor...

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    # by Débora Guedes - 10:04 AM

    Nealdo,

    Depois que te conheci descobri que escrever é muito bom. Faz a gente viajar em um mundo só nosso, mas ao mesmo tempo a gente faz desse mundo um campo aberto para novas histórias. Escrever é terapia, faz a gente dizer o que dói sem sentir dor e também faz a gente sorrir da simplicidade da vida. Escrever, faz nos faz perceber o cotidiano e achar nele a beleza escondida nas esquinas, olhares e sorrisos anônimos dos lugares em que passamos. Um dia quem sabe, quando eu tiver coragem, também sentirei na pele que escrever é bom, mas pesquisar para escrever é muito melhor.

    Abraços!